Direitos Humanos em Moçambique: Finlândia, o exemplo que o nosso país devia seguir

11 Jul, 2025 | Direitos Humanos

Por: António Luís Ndzimba 

Os resultados das últimas eleições presidências realizadas em Moçambique foram marcadas por uma onda de contestações e manifestações populares,  que por sua vez foram brutalmente reprimidas pelas forças de segurança do país, provocando centenas de mortes e milhares de feridos entre  graves e ligeiros, além da destruição de infraestruturas públicas e privadas.

A resposta em muitos dos casos desproporcional das forças de defesa e segurança face a onda de manifestações revelou o tipo de país que de facto  Moçambique é, um país em que se for necessário violar os direitos humanos para impor a sua vontade dos interesses dos que controlam o estado, a polícia não hesitará em faze – ló. 

Sheila Wilson, foi um dos rostos mais vistos dentro e fora do território nacional por divulgar diariamente violações flagrantes dos direitos humanos por parte da polícia no período pós eleitoral. Através do seu jornalismo comprometido com os grupos mais desprotegidos da sociedade, foi reportando centenas de casos que violam os mais básicos direitos da pessoa humana.

A realidade de Moçambique contrasta com as experiências de muitos outros países no mundo, que priorizam a protecção do ser humano acima de tudo. Na sua recente viagem a Finlândia, que decorreu entre os dias 1 a 4 de junho, a jornalista e activista social Sheila Wilson viveu uma experiência que classifica como nunca antes vista em Moçambique.

” Estar na Finlândia foi como ver materializado aquilo que muitos de nós em Moçambique ainda lutamos para alcançar. Foi reconfortante e, ao mesmo tempo, provocador. A sensação é de que é possível viver num país onde os direitos não são apenas proclamados, mas aplicados e protegidos no dia-a-dia. Onde a dignidade humana é o ponto de partida das políticas públicas. 

Um cenário ainda muito distante da realidade vivida em Moçambique admite  a activista social, mas acredita que no seu próprio ritmo e com os passos certos, o país pode chegar lá. “

Pessoalmente, foi também um momento de renovação da esperança de que Moçambique pode trilhar esse caminho, embora com os seus próprios passos. Moçambique pode e deve inspirar-se na Finlândia, mas é necessário compreender que não se trata de copiar um modelo. O que é possível e urgente é adaptar os valores universais de justiça, inclusão, transparência e responsabilidade à nossa própria realidade. Para isso, será preciso ir além de reformas superficiais. É necessário um compromisso sério com a transformação institucional, com o reforço da justiça, com a luta contra a corrupção e com a construção de uma cultura de respeito pelos direitos fundamentais. O caminho não será fácil, mas é viável, sobretudo se for guiado por uma visão de longo prazo e por uma liderança comprometida com o bem comum. A visita à Finlândia foi um testemunho de que sociedades mais justas não são um ideal distante, mas sim uma construção colectiva que começa com decisões políticas corajosas, educação de qualidade e respeito pelo cidadão. Com vontade política, investimento nas pessoas e envolvimento da juventude, acredito que Moçambique também poderá alcançar esse nível de bem-estar e dignidade social”.

Como jornalista e alguém que advoga pela defesa dos direitos humanos, Sheila Wilson diz que a viagem constitui uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional inigualável. Os contactos com diversas instituições e órgãos daquele país permitiram lhe absorver algumas experiências que podem ser aplicadas na sociedade moçambicana e no trabalho de jornalismo.

” Foi uma experiência extremamente rica e inspiradora,  o que mais me marcou foi o modo como os direitos humanos são efectivamente integrados na vida quotidiana das pessoas na Finlândia. O acesso à educação de qualidade, à saúde, à protecção social e à cultura é garantido sem discriminação, e isso cria uma sociedade mais justa, equilibrada e coesa.

Tive a oportunidade de visitar o Centro de Direitos Humanos da Finlândia, onde compreendi melhor o papel das instituições na promoção activa da dignidade humana. A visita à televisão pública YLE revelou como os meios de comunicação exercem um jornalismo livre, responsável e comprometido com o interesse público, com total independência editorial. Também estive no Serviço de Registo da População, onde percebi como o Estado mantém um sistema organizado, transparente e digitalizado para garantir que todos os cidadãos tenham acesso rápido e seguro aos seus direitos civis.

Outro ponto que me impressionou foi a confiança mútua entre os cidadãos e o Estado. Há uma cultura de prestação de contas, de transparência e de valorização do serviço público que, infelizmente, ainda é frágil no nosso contexto. Aprendi que a construção de uma democracia sólida passa pela responsabilização de todos os actores sociais e políticos, sem excepção. Concluiu Sheila Wilson.

De referir que segundo dados de 2023, a Finlândia se encontra na sétima posição com 0,96 pontos na lista dos países que mais respeito pelos direitos humanos tem no mundo, numa lista liderada pela Estónia que também possui uma classificação de 0,96 pontos.

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